segunda-feira, 27 de setembro de 2010

#33: O Velho Oeste

Diz-se que um império é feito de domínios militar, econômico e cultural. E a coisa parece ocorrer nessa ordem. Do domínio militar, passa-se ao econômico, e deste ao cultural. Estabelecido o império, o domínio cultural começa a ter grandeza tal que mitos estrangeiros são tomados pelos dominadores como mitos próprios e assim espalhados para deleite dos povos submetidos ao império.

Exemplo maior que a Eneida não há: os romanos tomaram para si a Guerra de Tróia e suas consequências.

E assim como Roma plagiou a Grécia, a América plagiou Roma e a aventura romana da marcha para o oeste.

Todos conhecem a história do “golden rush”, dos "cowboys" “bounty hunters”, “gunsliders” e quetais. Ocorre que a marcha para o oeste norte-americana não é senão uma reinvenção de eventos ocorridos na região espanhola da Almeria entre as décadas de 60 e 70 do século passado.

Relatos e registros fidedignos comprovam que, com a descoberta de terras férteis para a filmagem de filmes de tiroteio, correram para aquela região legiões de trabalhadores egressos do lumpesinato cinematográfico italiano, que estavam desempregados já havia alguns anos com o fim dos filmes de propaganda fascista.

Nas inóspitas terras da Almeria esses aventureiros italianos se dedicaram à busca ficcional de ouro, de vingança e de bandidos com cabeça a prêmio.

Decerto que homens de outras nações acorreram também para aquelas plagas (o norte-americano Clint Eastwood e o alemão Klaus Kinski entre eles), mas os pioneiros foram os italianos (Sergio Leone, Ennio Morricone e o lendário Giuliano Gemma são alguns dos numerosos aventureiros que capitanearam a verdadeira marcha para o oeste - sem falar em Mario Jose Ghirotti, que os imperialistas rebatizaram de Terence Hill). E foram os italianos que desbravaram aqueles desertos e de lá tiraram o mais puro ouro cinematográfico, trocando-o por punhados de dólares, punhados a mais de dólares e – por vezes – até mesmo por dólares furados.

Hoje é inquestionável que o relato daquela aventura feito pelo Signore Leone, intitulado “C'era una volta il Alguria”, é a mais fidedigna fonte disponível.

Aos que desconhecem essa obra, ela conta o momento mágico da ocupação do oeste da Almeria, quando as personalidades de Enrico Fonda e Carlo Birosque se enfrentaram (Enrico Fonda que em dado momento chegou a se associar ao ingênuo, porém habilidoso Mario Jose Ghirotti, irmão de Carlo Pedersoli) em uma sangrenta disputa por uma gaita napolitana. Todos italianos, todos na Almeria. Nem um único estadunidense é mencionado, nem um único palmo de terra americana é descrito nessa monumental e cuidadosa obra de pesquisa histórica.

Tudo isso ocorreu, diga-se de passagem, muito antes de Sam Peckimpah e Clint Eastwood (este sim, testemunha ocular da história ocorrida na Almeria, porém testemunha que não resiste a uma única acareação) terem criado a sua versão da marcha para o oeste.

Muito se discutiu acerca dessa apropriação indevida, e parece que a mais plausível conclusão é a de que se tratava de um plano orquestrado pelos estadunidenses para se vingar do fato de terem os italianos anteriormente se apropriado de um mito formador do caráter norte-american: o romance de uma costureira egípcia, conhecida como Elizabeth, the Taylor Queen of Egypt,com Gay Julian Caesar, um vigarista, e depois com Mark Antony, , outro vigarista, dois “founding fathers” subscritores da constituição daquele país, que haviam aportado Egito quando a nau Mayflower, voltando de Tróia, derivava pelo Mediterrâneo por ter se perdido da frota de Enéias. The Taylor posteriormente teve um filho, fruto desses relacionamentos, adotado por Levi Strauss e famoso por ser o autor da canção "The House of the Rising Sun" (my mother was Liz Taylor, she sewed my new blue jeans)