domingo, 28 de dezembro de 2008

#5: lista de ano novo

Outro dia vi na tv um filme no qual dois velhinhos, já mais prá lá do que prá cá, fazem uma lista das coisas que pretendem fazer antes de morrer. Aí saem do hospital e vão fazer tudo o que está na tal lista.

Ano novo é uma época e tanto para fazermos listas de coisas que queremos fazer antes de morrer, ou antes do ano acabar, ou revisramos nosso planejamento plurianual pessoal.

Nós vírgula: vocês.

Mas eu, que só faço listasde supermercado, farei uma lista de coisas que não pretendo fazer antes de morrer.

Ou não.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

#4: outro pé quebrado

A moça de calça amarela
Conversa c'um aparelhinho
O moço sentado ao meu lado
Já cutucou o nariz quatro vezes

#3: pé quebrado

Luzinhas vermelhas dos carros
Estendem-se na rua infinita
O ônibus segue esperando
A chuva cair prá chegar no meu ponto

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

#2: a piada de dédalo


Depois da morte do Minotauro não havia mais o que guardar nem o que temer lá dentro. Não contei a ninguém que exploraria aquele lugar. Queria evitar a censura de todos, queria evitar que me tomassem por algo monstruoso. Todos sabemos que o medo, mesmo quando o perigo bate em desenfreada retirada, demora para abandonar sua citadela.

Eu tinha certeza de meu sucesso: o labirinto era obra de um homem, e toda obra de um homem pode ser reconstruída ou mapeada.

Havia a história das paredes que andam. É lógico que paredes não andam como anda um ser animado, mas poderia haver lá um ou outro mecanismo que movesse pedras ou paredes às costas dos visitantes, confundindo-os. Isso seria condizente com o gênio de Dédalo. Mas a história de Teseu, se verdadeira, negaria essa versão. Alguém disse que talvez a sorte tivesse recompensado o herói Teseu, e por isso ele não encontrou em sua aventura nenhuma dessas paredes. Ponderei sobre o assunto e decidi que em meus passeios eu sempre teria um escravo andando à minha frente. Os dois que perdi, perdi por imprudência deles, e não por paredes que andavam. Quando (inspirado por Ariane) decidi atar uma ponta de uma longa corda ao lombo do escravo que ia à frente e a outra ponta ao meu próprio lombo, não perdi mais nenhum e cessei ali os prejuízos (o preço de escravos mudos, à época, estava nas alturas).

A exploração foi lenta. Eu andava devagar, medindo distâncias, e anotava em um rascunho cada coluna, cada parede, cada porta e cada espelho que encontrava pela frente. Voltava para fora e usava os rascunhos para desenhar a planta definitiva.

Eu seguia meses em uma direção, e acabava em uma parede. Voltava à bifurcação anterior (feliz quando era apenas uma bifurcação, e não três, quatro ou às vezes cinco caminhos que se espalhavam de um ponto), para terminar em outra parede, ou em outra bifurcação que daria em duas paredes ou que daria em um portal pelo qual eu já havia passado. Meses de exploração para chegar a lugar nenhum. Outros meses para voltar ao lugar onde estava alguns meses antes.

A planta avançou lentamente. Cheguei a desistir da exploração, apenas para descobrir que nada poderia matar minha obsessão e voltar, resignado, aos trabalhos.

Em um dado momento, soube que eu nunca acabaria a planta. Mas alguém depois de mim, ou alguém depois desse alguém, um dia poderia refazer a planta de Dédalo. Continuei.

Meu descanso depois dessas explorações era um só: admirar minha planta. A planta de algo já construído pode parecer obra mesquinha, mas algumas coisas são mais fáceis planejar do que mapear. Minha planta era só uma sombra da monstruosidade construída por Dédalo, mas demandava esforço muito maior. Isso é natural. Gerar o mundo – obra de deuses - foi fácil. Já entendê-lo, ou mesmo vagar por ele...

Um dia, do nada, sem perceber direito, vi na planta uma linha reta. Uma única linha reta que partia logo depois de um espelho que se escondia atrás da porta de entrada. Passava por quatro colunas e acabava onde acabavam meus desenhos.

O único padrão que eu havia encontrado até então era uma absoluta falta de padrões. E agora aquela linha reta, lá em minha planta já havia bem uns oito anos, se mostrava para mim.

Empolguei-me. Voltei ao labirinto. Sem escravos nem ninguém. Deixei uma luz onde se iniciava a linha reta. Parei atrás da última coluna que minha planta indicava como margeando a linha reta, e tentei enxergar a luz. Não era possível fazê-lo com os dois olhos abertos. A linha tinha a espessura da retina. Segui, procurando a luz que ficou na entrada. Avancei como nunca. Andei por horas, de costas, esbarrando e contornando portas e colunas até encontrar uma parede.

Uma parede que era uma porta, como eu já imaginava e como logo consegui comprovar. Uma porta para o palácio do rei. Para o quarto de Pasífae. Mal abri a porta, a imagem luminosa de Pasífae surgiu, refletiu-se em todos os espelhos e iluminou o labirinto.

Ela sorriu, fez uma deferência e abriu espaço para que eu entrasse. Entrei. Eram quase cinco da tarde.

O quarto era uma arena espanhola, Pasífae, que era Ignacio Sánchez, gritava para mim algo que o barulho da multidão não me deixava ouvir. E eu... eu com a cabeça estranhamente pesada, só via um pano vermelho na minha frente, às cinco em ponto da tarde.

#1

Bloguei!

Acho que todo blog começa com uma justificativa e uma proposta.

Não há justificativa plausível: sou culpado de tudo o que se seguir a esta mensagem.

Propostas, aceito discutir as que forem razoáveis. Meus agentes já estão em contato com a Playboy e com o Real Madrid, mas ainda não fecharam nada.